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Sobre Mim:

Anderson, nascido em 17 de agosto de 1996 (17 anos), concluiu o Ensino Médio em 2012 e, até então, dedica o tempo ao vestibular - antes, para o curso de direito. É bem caseiro. Por natureza, carioca. Por acaso, blogueiro. Futuramente, estudante de Letras: Português-Literaturas. Talvez, dependendo das mudanças que o tempo proporciona, futuro professor de Língua portuguesa, Literatura e Redação. Como passatempo, escreve. Por amor, viciado em filmes e em livros. Gosta bastante da área de epistemologia, do existencialismo, de epifanias e tem como escritor/escritora preferida a Clarice Lispector.

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"Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras" (Clarice Lispector)

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"A missanga, todos a vêem. Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas. Também assim é a voz do poeta: um fio de silêncio costurando o tempo" (Mia Couto)

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"Quanto a mim, só sou verdadeiro quando estou sozinho"

(Clarice Lispector)
"Não sou alegre nem sou triste: sou poeta." (Cecília Meireles)
sábado, 2 de novembro de 2013







   “Aproximou-se da janela, sentiu frio nos ombros nus, olhou a terra onde as plantas viviam quietas. O globo movia-se e ela estava sobre ele de pé. Junto a uma janela, o céu por cima, claro, infinito. Era inútil abrigar-se na dor de cada caso, revoltar-se contra os acontecimentos, porque os fatos eram apenas um rasgão no vestido, de novo a seta muda indicando o fundo das coisas, um rio que seca e deixa ver o leito nu.



   A frescura da tarde arrepiou sua pele, Joana não conseguiu pensar nitidamente – havia alguma coisa no jardim que a deslocava para fora de seu centro, fazia-a vacilar... Ficou sobreaviso. Algo tenta mover-se dentro dela, respondendo, e pelas paredes escuras de seu corpo subiam ondas leves, frescas, antigas. Quase assustada, quis trazer a sensação à consciência, porém cada vez mais era arrastada para trás numa doce vertigem, por dedos suaves. Como se fosse de manhã. Perscrutou-se, subitamente atenta como se tivesse avançado demais. De manhã?

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   De manhã. Onde estivera alguma vez, em que terra estranha e milagrosa já pousara para agora sentir-lhe o perfume? Folhas secas sobre a terra úmida. O coração apertou-se-lhe devagar, abriu-se, ela não respirou um momento esperando... Era de manhã, sabia que era de manhã... Recuando como pela mão frágil de uma criança, ouviu, abafando como em sonho, galinhas arranhando a terra. Uma terra quente, seca... o relógio batendo tin-dlen...tin...dlen... o sol chovendo em pequenas rosas amarelas e vermelhas sobre as casas... Deus, o que era aquilo senão ela mesma? mas quando? não sempre...




   As ondas Cor-de-rosa escureciam, o sonho fugia. Que foi que perdi? que foi que perdi? Não era Otávio, já longe, não era o amante, o homem infeliz nunca existira. Ocorreu-lhe que este deveria estar preso, afastou o pensamento impaciente, fugindo, precipitado-se... Como se tudo participasse da mesma loucura, ouviu subitamente um galo próximo lançar seu grito violento e solitário. Mas não é de madrugada, disse trêmula, alisando a testa fria... O galo não sabia que ia morrer! O galo não sabia que ia morrer! Sim, sim: papai que é que eu faço? Ah, perdera o compasso de um minueto... Sim... o relógio batera tin-dlen, ela erguera-se na ponta dos pés e o mundo girava muito mais leve naquele momento. Havia flores em alguma parte? e uma grande vontade de se dissolver até misturar seus fios com o começo das coisas. Formar uma só substância, rósea e branda – respirando mansamente como um ventre que se ergue e se abaixa, que se ergue e se abaixa... (...)”

(Clarice Lispector)









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